domingo, 18 de abril de 2021

Numa caminhada contra o efeito Flynn

Efeito Flynn? Mas que coisa é esta???

Tem calma, é muito simples: o efeito Flynn é o nome que dão à tendência para o aumento dos níveis de inteligência (aquilo que se chama QI- Quociente de Inteligência) à medida que os anos passam. Isto tem sido estudado desde o final da 2.ª Guerra Mundial, no século passado. Ou seja, de 10 em 10 anos notam que a inteligência dos mais novos é superior à dos mais velhos.

Só que estudos recentes - e agora vais ficar de boca aberta-  apontam para a ideia de que a geração atual é a primeira geração da história com um QI (Quociente de Inteligência) mais baixo do que a geração anterior ou, por outras palavras, estes estudos apontam para uma tendência decrescente do efeito Flynn ao longo das últimas décadas. Isto é, tu podes estar a pertencer a uma geração menos inteligente do que os teus pais!!!

Claro que se tu estás espantado os cientistas ficaram doidos!! O que está a acontecer para que esta inversão do efeito Flynn?? Os especialistas em ciências cognitivas constataram esta inversão, sobretudo nos países mais desenvolvidos, e colocaram a ênfase na linguagem e na utilização de meios digitais como principal causa para este fenómeno.

Infelizmente, ainda não é possível determinar o papel específico de cada um dos fatores que possa influenciar o nível de QI de cada geração, mas o que se sabe com certeza é que, mesmo que o tempo de ecrãs de uma criança não seja o único culpado, afeta os principais alicerces da nossa inteligência: a linguagem, a concentração, a memória, a cultura e, consequentemente, leva a uma queda significativa do desempenho académico.



De um modo geral, podemos identificar as consequências principais da utilização abusiva destes dispositivos:

  • Diminuição da qualidade e quantidade de interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento emocional e da linguagem;
  • Diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (Arte, Leitura, Desporto, etc.);
  • Perturbação do sono, que é quantitativamente reduzido e qualitativamente degradado;
  • Problemas de atenção, levando a dificuldades na concentração e na aprendizagem;
  • Subestimulação intelectual, que impede o cérebro de se desenvolver a 100%;
  • Sedentarismo excessivo que, além de afetar o desenvolvimento equilibrado do corpo, influencia a maturação cerebral;

Devemos aqui lembrar-te que nem todas as atividades alimentam a construção do cérebro com a mesma eficiência, e que todas as atividades relacionadas com a escola, trabalho intelectual, leitura, música, arte, desportostêm um poder de estruturação e nutrição muito maior para o cérebro do que os ecrãs.



E agora pensas: 
"Pronto, está visto, vamos voltar à vida antes dos computadores e telemóveis...". 
Calma!! Isso não é possível, e na verdade...

Os meios digitais não são só negativos...

Claro que é importante que os alunos aprendam habilidades e ferramentas básicas de informática. Da mesma forma, a tecnologia digital pode ser uma ferramenta relevante e essencial para os professores e alunos, principalmente nesta época de pandemia em que tiveram obrigatoriamente que recorrer a eles. Claro, se faz parte de um projeto educacional estruturado e se o uso de um determinado software promove efetivamente a transmissão do conhecimento, os meios digitais são determinantes e não há como negar.

Porém, quando um ecrã é colocado nas mãos de uma criança ou adolescente, quase sempre prevalecem os usos recreativos mais empobrecedores, que incluem a televisão (que continua a ser o número um de todas as idades), os videojogos (principalmente de ação e violentos) e, mais na adolescência, um frenesim de autoexposição nas redes sociais.



Como António Damásio (sabias que é um dos grandes investigadores do cérebro e é português?) e outros cientistas demonstraram, a atrofia do intelecto pressupõe também a asfixia das emoções, e este é um ponto essencial da discussão.

 

Com os hábitos de leitura e de escrita a serem trocados pelos ecrãs, escrever de forma cada vez mais simples e em tempo linear tornou-se recorrente, o que se acredita suprimir a diversidade e expressão emocional. Tornamo-nos mais agressivos, quase incapazes de descrevermos as nossas emoções por palavras.

A esta escravatura da linguagem podemos acrescentar-se os estrangeirismos cada vez mais comuns: o soft power, o branding, os pacotes premium e a infantilização do diálogo através dos likes, emogis e tags.

 



Mas afinal, o que podemos fazer para contrariar esta tendência?

  • Envolver as crianças é importante. Eles precisam de ser informados das consequências da utilização dos ecrãs e de serem eles próprios a tentar estipular as suas próprias regras, tornando-os mais autónomos e mais responsáveis pelas suas próprias ações.
  • A partir daí, a ideia geral é simples: em qualquer idade, o mínimo é o melhor.
  • Além dessa regra geral, diretrizes mais específicas podem ser fornecidas com base na idade da criança. Antes dos seis anos, o ideal seria não haver ecrãs (o que não significa que de vez em quando não se possa assistir a uns desenhos animados).
  • Quanto mais cedo forem expostos, maiores serão os impactos negativos e o risco de consumo excessivo subsequente.
  • A partir dos seis anos, se os conteúdos forem adaptados e o sono preservado, o tempo em frente aos ecrãs pode chegar até meia hora ou até uma hora por dia, sem uma influência negativa muito relevante.
  • Evitar os ecrãs pela manhã antes de ir para a escola, assim como à noite antes de ir para a cama ou quando estiver com outras pessoas. E, acima de tudo, sem ecrãs no quarto.
  • Estimular a criança ou adolescente a praticar hábitos de leitura, substituindo o ecrã por um livro, e acompanhá-las, podendo até criar um momento familiar de leitura.



A mudança começa em cada um de nós, naquilo que fazemos e no que transmitimos aos nossos. Se cada um de nós fizer um pequeno esforço, isso traduzir-se-á numa grande mudança! E acima de tudo, os benefícios serão daqueles que nós queremos ver felizes, autónomos, responsáveis e com um futuro sorridente pela frente 😁😁!

Fica bem!

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