Cuidar da própria paz
interior pode ser benéfico para os outros.
As emoções são naturalmente contagiosas. Por norma, a pessoa que contagiamos com a nossa emoção é alguém próximo e com quem temos uma verdadeira relação afetiva, mas não só. Com o nosso humor conseguimos interferir com o humor dos outros provocando ondas de alegria, tristeza ou fúria, consoante o nosso estado.
Se pensarmos numa situação dramática que já vivemos, conseguimos pensar em como alguém consegue contê-la, acalmando as pessoas, ou por outro lado ainda a aumenta mais com o seu nervosismo. Perante uma tempestade violenta, o colo seguro de um pai faz com que a criança assista ao fenómeno sem medo, sentindo-se protegida.
De facto, a forma como lidamos com um evento negativo ou stressante vai ter impacto no outro, acalmando-o ou desorganizando-o ainda mais. A isto chama-se regulação emocional interpessoal, fenómeno estudado por vários investigadores, em várias áreas, que se associa à forma como regulamos intencionalmente as nossas emoções para o benefício de um grupo.
Quando a calma prevalece, trata-se de assegurar que o que se está a viver é real, mas que passa. Segundo a investigadora Simon-Thomas (Universidade de Berkeley) manter a calma permite ao outro recuperar de experiências emocionais difíceis de uma forma construtiva. A mesma autora afirma que: "quando somos capazes de manter a nossa própria calma, estabilidade e equilíbrio, tornamo-nos uma fonte de calma, estabilidade e equilíbrio para as outras pessoas que encontramos no mundo - e isso é um serviço!"
Quando temos calma temos mais hipótese de gerir melhor o que corre mal ou é inesperado, temos uma capacidade maior de decidir para o bem comum.
A pensar nisto e em como podemos treinar esta nossa habilidade de reduzir o stress geral, mantendo a calma, deixamos-vos quatro sugestões.
Nomeie as suas emoções
Na próxima vez em que experimentar uma emoção desagradável, tente fazer uma pausa e perguntar-se o que está a sentir. Em seguida, diga-a a si mesmo (estou com medo. estou com raiva. estou muito triste).
Segundo a pesquisa realizada por Simon-Thomas, nomear a emoção sentida, é um passo para recuperar de sentimentos intensos associados à mesma.
Tente distanciar-se
Para obter mais benefícios ao nomear as suas emoções, tente adotar uma perspetiva de terceira pessoa. Em vez de “Estou com medo”, diga o seu próprio nome e a emoção como “Ana está com medo”.
A pesquisa sugere que falar na terceira pessoa, ajuda-o a distanciar-se da sua própria narrativa o que contribui para reduzir a intensidade da emoção sentida.
Dedique algum tempo a observar a natureza
Coisas simples, como o formato das nuvens ou o padrão das folhas das árvores, podem causar admiração quando vistas com intenção. Ao desviarmos a atenção de nós próprios, para algo maior, aquietamos o nosso interior ficando este menos centrado nas preocupações individuais.
De acordo com um estudo de 2018 na revista Emotion, doses diárias de natureza promovem o bem-estar e satisfação com a vida. Sentir admiração faz com que nos sintamos mais conectados com os outros e mais propensos a termos comportamentos úteis e generosos.
Pratique a atenção plena
Treinar o foco no momento presente – na respiração ou noutra pequena ação que temos em mãos - ajuda a aliviar o stress e a ansiedade mas também promove a empatia e a compaixão.
Os benefícios para a saúde de práticas de atenção plena como o ioga e a meditação estão bem documentados pela ciência. No entanto, podemos treinar a atenção plena através de outras ações, dedicando todo o nosso foco e presença, sem julgamento ou interferência exterior, a uma tarefa aparentemente mais simples, como desenhar, cozinhar ou outra do nosso agrado...
Precisamos uns dos outros
Hoje e sempre, há muitas coisas, que podemos fazer a qualquer momento, que são contribuições legítimas para o bem comum. Coisas como usar uma máscara, conversar (à distância) com um estranho no supermercado, refletir antes de publicar algo ofensivo nas redes sociais, são formas de contribuir para um bem maior.
Conseguir manter a calma e transmiti-la aos outros é fundamental no momento que atravessamos. Por outro lado, isso será muito difícil se nos deixarmos consumir pela preocupação, ansiedade ou tristeza.
À medida que avançamos, podemos pensar como queremos ser lembrados quando olharmos para trás... Sabendo que a tarefa não é fácil, podemos querer ser lembrados como alguém que escolheu a paz em vez da reatividade, o amor em vez do ódio e a esperança em vez do medo.
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