Mais um ano na nossa vida se inicia e, esperançosamente, com novos projetos e objetivos a atingir. Muitas vezes começamos logo nos primeiros minutos do Ano Novo a delinear um conjunto de conquistas e desejos que queremos muito que se concretizem no ano que se inicia. E começamos cheios de vontade: acordamos mais cedo para fazer uns minutos de ginástica ou para meditar, subimos as escadas em vez de ir pelo elevador, optamos por alimentos mais saudáveis e bebemos mais água. Começamos cheios de energia e comprometemo-nos com essa mudança.
Mas... passado uns dias voltamos às nossas rotinas anteriores...
Mudar hábitos não é fácil. Aliás, manter a mudança de comportamentos até passarem a ser automáticos é que é a parte complicada. Confiamos demasiado na força de vontade!!
Se nós somos adultos e não nos conseguimos manter num objetivo, como podemos ser tão críticos com os nossos filhos quando não conseguem manter as mudanças a que se comprometeram?
O cérebro adulto está desenvolvido na sua plenitude mas o das crianças e jovens não. Aliás, (surpresa das surpresas para muitos de nós) a região cerebral responsável pelo autocontrole só está completamente desenvolvida aos 25 anos. Ou seja, estamos muitas vezes a exigir um grau de autocontrole superior àquilo que, do ponto de vista desenvolvimental, a criança ou o jovem poderá dar.
Então o que fazer? Como me mantenho num objetivo e como posso ajudar os meus filhos a serem mais persistentes e a lutar por aquilo que querem?
A ciência psicológica diz que as nossas escolhas são influenciadas pelo ambiente – o contexto pode fazer com que algo se torne mais fácil ou mais difícil - muito mais do que pensamos. Mesmo as mínimas diferenças podem ter um efeito enorme.
Num estudo, os investigadores deslocaram alguns alimentos da frente para a parte de trás num selfservice — uma mudança de apenas 20 cm — e esta pequena diferença levou as pessoas a escolherem menos estes itens. Ou seja, as pessoas escolhiam mais facilmente os alimentos que estavam mais à frente.
O que é que isto significa no nosso dia-a-dia? Será que tendemos a fazer escolhas mais cómodas e que que exigem menos esforço? Sim, é isso mesmo.
Então, se queremos começar a comer menos bolachas, temos de deixar de as comprar. Se queremos beber mais água temos de arranjar uma garrafa com mais capacidade. Se queremos começar a correr ao fim do dia devemos procurar um grupo que nos leve a assumir um compromisso e a não falhar.
E como ajudar os nossos filhos?
Comece por pensar no que é importante que eles façam:
1- estudar mais vezes?
2- estar menos tempo ao telemóvel?
3- participar mais nas tarefas domésticas?
Depois pense no que pode mudar para facilitar o início destas mudanças. Não se esqueça de que, antes de as implementar, deve conversar com os seus filhos para os motivar, mostrando as vantagens destas estratégias.
E depois mude algumas coisas.
Veja as sugestões abaixo, podem dar algumas ideias:
1- Para facilitar o estudo mais frequente em casa
- crie um espaço agradável onde o/a seu/sua filho/a possa estudar;
- defina um período de tempo para o/a seu/sua filha/o estudar, em que consiga criar um contexto favorável em casa, onde os outros elementos da família presentes nessa hora, estejam ocupados com tarefas semelhantes ao estudo;
- desligue a televisão, defina tarefas ou atividades tranquilas para os outros elementos da família (ex.: fazer os TPCs, desenhar, fazer fichas, fazer algum jogo tranquilo, ...);
- organize o seu tempo para que consiga estar, nesse período, ocupada com algo semelhante, como organizar faturas, fazer pagamentos, selecionar receitas, ler, ...
Lembre-se que será difícil para o/a seu/sua filho/a concentrar-se e manter-se a estudar se houver barulho em casa, ou se os outros elementos da família estiverem a conversar ou a jogar consola.
2- Para diminuir o tempo de telemóvel
- defina um período, em família, em que ninguém usa o telemóvel, por exemplo desde o jantar até irem para a cama. Escolha um cestinho ou caixa onde todos os elementos da família coloquem os telemóvel a essa hora, e só os recolhem no final desse período;
- pense em si e nos outros familiares adultos como modelos: não ande sempre com o telemóvel atrás de si pela casa e defina períodos de tempo para estar nas redes sociais ou a jogar. Verbalize isso, explicando aos outros elementos da família qual é a intenção e quais as vantagens, reforçando a necessidade de entreajuda para esta mudança.
3- Para aumentar o envolvimento do(s) seu(s) filho(s) nas tarefas domésticas
É importante recordar que todas as crianças podem, desde cedo, colaborar nas tarefas domésticas. Podem ser coisas tão simples como pôr a roupa suja no cesto para lavar, colocar os guardanapos na mesa ou ajudar a arrumar a roupa nos armários.
À medida que vão crescendo essas tarefas podem ser mais variadas e a criação de rotinas é sempre a melhor solução para facilitar a colaboração.
- comece por definir quais as tarefas que o/a seu/sua filho/a pode fazer, em função da sua idade e, em conjunto com ele/a, defina os momentos em que deve realizá-las, ou o período de tempo em que devem ser concretizadas. Por exemplo, pôr a mesa ao jantar deve ser antes de jantar, mas pode ser às 18:30, quando ele/a chega a casa, e não às 20:00.
- defina tarefas para todos os outros elementos da família: a si pode caber-lhe fazer as refeições, fazer as compras, pôr a roupa a lavar, ..., e a cada pessoa serão atribuídas outras.
A família pode ser vista como uma cooperativa onde todos beneficiam do trabalho de todos. Os seus filhos terão comida na mesa e roupa lavada, e darão o seu contributo noutras tarefas adequadas à sua idade e capacidade.
Ao adaptarmos o contexto familiar criando ambientes mais favoráveis à concentração, ao afastamento do telemóvel e à cooperação nas tarefas, estamos a facilitar a mudança e a criação de hábitos mais positivos.
Vamos experimentar?
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